quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Professor Oswaldinho


Professor Oswaldinho

A Escola Agrícola de Rio Pomba foi criada pela Lei nº 3.092 de 29/12/1956. As construções começaram em junho de 1957 e inaugurada em 16/08/1962.
Muito aprendi na escola idealizada pelo Deputado Último de Carvalho e concretizada pelo grande Presidente Juscelino Kubitschek. Depois virou Ginásio, Colégio e hoje é o respeitado Campus Rio Pomba (IF Sudeste/MG).
Mas para mim será sempre lembrado como o Colégio Agrícola de Rio Pomba, um local que se transformou numa oficina de “aprenderes”, um laboratório do saber. Seus bancos escolares forjaram homens, formaram cidadãos. Verdadeiras lições para toda a vida.
Com o fantástico Professor Tote (Aristótenes Ottoni Cardoso) aprendi que “seriam deuses os astronautas?”. E também um pouco de biologia, RNA e DNA. E que a vida poderia ser Leve e Suave, assim como os cigarros L&S que ele prendia entre os (sorri)dentes pontiagudos. Prof. Tote, um ídolo para o resto das nossas vidas.
A Dona Tota nos ensinou princípios de higiene e disciplina. Ensinava a escovar os dentes, aparar as unhas, limpar os ouvidos, lavar as nossas orelhas. E quando não fazíamos a contento, ela, tranquilamente, entrava no vestiário e tirava as nossas “caracas”. Se preciso fosse, para fazer valer a sua autoridade, utilizava-se até de beliscões. E ninguém reclamava. Éramos, na maioria, matutos, meninos da roça, do interior, mas jamais bobos. Reclamar? Jamais. Seria muito pior. No refeitório ela nos proibia de colocar os cotovelos sobre a mesa, uma extravagância para muitos daqueles meninos acostumados a “comer”, de cócoras, num canto da cozinha das suas humildes casas. Mas estes aperreios nos faziam crescer, ir à frente. E fomos. Hoje, espalhados mundo afora.
Com a Dona Alvalinda e a Dona Cecília aprendemos a respeitar os símbolos nacionais como a Bandeira e o Hino Nacional, hasteada e cantado, toda semana à frente do Prédio Principal. Uma aula de civismo, de amor à pátria, que nem sabíamos direito o real significado, mas agora, depois dos 60 anos, sabemos exatamente a real importância.
Em escritos anteriores falei sobre a querida Maria Marotta, a Secretária do Amor, do Professor Wilson José de Melo, Professor Wandir Crivellari, Professor Domingos Roberti,  Padre Geraldo Magela, Ary Rezende, o Homão. É só reler no Blog (http://alunosdocarp.blogspot.com/) estes posts antigos.
Ainda falta falar de muitos Mestres. Exaltar qualidades e virtudes como o “enigmático” Geraldo Magela Corrêa Neto Cunha, o CUNHÃO, o mais exigente de todos os professores, por isto mesmo, o responsável pelo alto conhecimento de seus alunos em Química, matéria brilhantemente lecionada por ele. Um grande professor o CUNHÃO.
Pretendo escrever sobre o cordato Dr. Zezinho (José Marinho Saraiva) batendo e rebatendo o seu cigarro Continental sobre a unha do polegar, mas sem jamais acendê-lo na sala de aula, enquanto lecionava Ciências. Não posso me esquecer do Dr. José Reis Santos, professor de inglês. Presidente, dirigente e torcedor apaixonado do América de Rio Pomba. Tratou de muitos alunos, frequentadores do lupanar Bico Doce, onde adquiriram doenças venéreas, muito comum naqueles tempos. E tome benzetacil.
 Não posso me omitir sobre o Professor Serjão (José Sérgio Ferreira) contando as suas histórias surreais. O dia em que o seu cavalo quebrou a perna ele carregou o animal até a estrebaria. Ou quando ele foi encarregado de administrar a obra da Mina Dágua do colégio atrás do gol do campo de futebol. Um aluno rebelde, malcriado, escreveu no cimento fresco a frase “Engenheiro Cú”, com acento. Um protesto grotesco, um despropósito. Um arroubo infanto-juvenil inconsequente. Éramos jovens, nada sabíamos da vida. Ainda hoje, quase nada sabemos. Com o Professor Serjão aprendi um pouco de francês e geografia.
Do jardineiro Delário aprendi que “na prática a teoria é outra”. Suas mãos calejadas ajardinaram, floriram, embelezavam a escola. Os seus enxertos, todos vingavam. Já os feitos pelos alunos e pelo professor, na maioria se transformavam em “muda perdida”.
Dos cozinheiros Chico e Tatão aprendi que com os mesmos ingredientes, a mesma dispensa, pode-se fazer uma boa ou péssima comida.
Já falei sobre o Dr. Geraldo Luiz Ribeiro, Vice-Diretor e depois Diretor. O texto “Fumódromo” foi postado em 14/11/2016. Nele, descrevo que lhe surrupiram um maço de cigarros que deixara no seu carro. Foram momentos de tensão vividos no Colégio. Se não aparecesse o maço de cigarros ele suspenderia todos os alunos. Arruinaria a sua carreira acadêmica, mas complicaria a vida de muitos estudantes. Ele não queria saber quem fora o autor. Os alunos se mostraram leais e não houve dedos-duros. O maço de cigarros foi reposto. E só, então, depois deste meu “post”, apareceu o responsável pela falcatrua. Ao ler a história, o Rômulo Vieira da Costa disse que foi ele que surrupiou e devolveu o maço de cigarros. Rominho, como era conhecido, carioca, de Bangu, bom de bola, fazia o meio-de-campo com o Alencar (Caburito), ótimo ritmista, baterista do conjunto do nosso colégio e da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.
Aprendi com Dr. Carlos Martins Bastos e Plínio Tostes Alvarenga a diferença entre ser um bom ou mau diretor. Podemos fazer o bem e o mal. Cabe à gente decidir o caminho.
Tenho histórias para contar dos Professores Mauro Marques de Oliveira e Ubirajara Pinto de Deus. Grandes Mestres que guardo na minha lembrança com carinho. Ficarão para outra ocasião, pois hoje eu quero relembrar do Professor Oswaldinho, um carioca simplório que lecionava Mecânica Agrícola,
De tão simples, ninguém recorda o seu sobrenome. Já perguntei para Mauro Calado e o Dezinho (José Soares Furtado) que são o nosso Google para assuntos CARPIANOS. E eles não souberam me dizer.
Fiz a mesma indagação ao brilhante conterrâneo João Coelho, Também não se lembrava do sobrenome do Professor Oswaldo. Nas provas aplicadas pelo Oswaldinho, todos, ou quase todos, colavam. Ninguém estudava. Uma rara exceção era o João Coelho. Pois bem, a nossa turma queria exigir que o João Coelho também colassse. Para isto tomaram-lhe o caderno com as suas anotações de forma a impedí-lo de estudar para o exame mensal. Somente minutos antes da prova lhe foi devolvido o seu caderno. E mesmo assim o João Coelho não colou, resolvendo as questões, tirando nota boa, como sempre fazia.
Nas aulas do Professor Oswaldinho aprendia sobre peças, equipamentos agrícolas e até dirigir trator. Uma temeridade, colocar um veículo daquele nas maõs de meninos que nunca dirigiram antes. Alguns acidentes ocorreram, sem gravidade, que eu me lembre.  
O Professor Oswaldo não trouxe a família para Rio Pomba. Morava num dos quartos do dormitório. Tinha um hobby: jogar Xadrez. Precisava de adversários. Ensinou o jogo aos alunos que se interessaram pela novidade. Os movimentos das peças, Cavalo, Bispo, Torre, Peão, Dama, Rei, Roque, “en passant”, o xeque-mate...  
Eu sabia jogar Damas, pois o meu pai me ensinara, mas de xadrez, não tinha a menor noção. Dentre os alunos, um que se destacou como bom jogador foi o carioca Paulo Weimann, apelidado de Paulo “Verme”. Creio que o apelido foi devido à sonoridade do nome. Mas teve uma vez que ele comeu uma lesma. Ela estava entranhada numa folha alface. Mesmo sendo alertado que tinha uma lesma na alface ele a comeu. Dizem que ele disse “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. Ou teria sido estômago?
Assim, às vésperas do nosso Encontro em Juiz de Fora e nesta data, de hoje, em que se completam 56 anos da inauguração do nosso inesquecível Colégio Agrícola de Rio Pomba quero prestar esta simples homenagem ao Professor Oswaldinho que me ensinou a jogar Xadrez.
E de tudo que aprendi no CARP, o Xadrez foi um dos mais importantes ensinamentos que recebi. Ajudou-me a raciocinar, a pensar. Continuo praticando, amadoristicamente, até hoje este esporte, também considerado uma arte e ciência. Aceito desafios.

Ildefonso Dé Vieira
16/08/2018

terça-feira, 3 de abril de 2018

Professor Ary Resende

O Professor Ary Resende era um homem bom. Contava as suas mentiras, mas quem não conta.
Tinha uma dicção que deixava a desejar para um profissional que necessita da voz para transmitir os seus ensinamentos.  Mesmo assim aprendi algumas coisas com ele. Não aprendi mais por ser um aluno relapso.  Vagabundo mesmo. Estava tentando aprender a tocar violão e estou tentando até hoje. O Professor Domingos Roberti deixava o violão do colégio comigo. E eu andava com o violão pra tudo quanto é canto. Assistia as aulas, na última carteira, com o violão ao lado. E quando achava que a aula seria desinteressante, pegava a viola e ia matar aula num canto sossegado do colégio. Algumas vezes cruzei com o Professor Ary adentrando a sala e ia saindo, gazeteiro contumaz, para cabular mais uma aula.
E é claro que ele não gostava desta minha atitude irresponsável, mas nunca me dedurou na Secretaria ou à direção da Escola. 
Apenas lamuriava, com a sua dicção puxando xis e esses, para os alunos presentes:
“Estes alunos que não assistem as aulas, só quero ver como eles irão se sair na hora da prova.”
Mas como era uma matéria “decoreba” era só pegar os cadernos dos colegas e memorizar alguns dos ensinamentos da deusa Ceres. Aí as notas davam pro gasto, para passar.
Mas o melhor do Professor Ary não eram os seus ensinamentos agrícolas e sim as suas histórias e estórias fábulas, fabulosas.
Uma delas, não esqueço até hoje. 
É do tempo que ele trabalhava na ACAR e ía atender uma fazenda. Chovia torrencialmente. Estrada de terra, barrenta, um lodo. Praticamente intransitável.
E o Professor Ary com a cara mais limpa que Deus lhe dizia que dirigia, dirigia, e nada de chegar à propriedade rural. Chuva forte, visibilidade quase zero.
E quando ele menos espera deu pra vislumbrar que estava chegando de novo na cidade que deixara havia mais de uma hora.
E mostrando sério, para demonstrar veracidade a sua narrativa, dizia:
“A estrada estava tão ruim e o carro derrapando tanto que ele girou no meio da viagem e nem notei, retornando à cidade”.
Como disse no início o Professor Ary Resende era um homem bom, uma boa alma. Que DEUS o tenha,