sábado, 26 de novembro de 2016

TPC



TPC

            No ano de 1971 ocorreram muitas mudanças na vida daqueles meninos que chegaram à Escola em 1965.
            Agora, rapazes, alguns com 18,19 ou 20 anos, tardiamente, descobriram que namorar era melhor que jogar bola. E partiram para o ataque. Tudo era motivo para dar início a uma paquera.
            E uma grande oportunidade surgiu quando chegou na Escola, não me lembro mais quem,  com a notícia de um programa diferente. Ia ter um tal de "Cursilho" no Colégio Regina Coeli. Seria passar um domingo, o dia inteiro, em retiro no Colégio, com direito a Missa e Orações.
            Muitos desconfiaram. Seria mais um programa de índio. Falou mais alto o argumento de que lá estariam as meninas mais belas de Rio Pomba. Diante desta forte lógica cartesiana, muitos jovens CARPIANOS resolveram arriscar o domingo.
            Quando se tem esta idade um domingo a mais ou a menos não faz tanta diferença. E fomos nós para o Colégio Regina Coeli. Vou citar alguns, talvez até invencionar; e esquecer muitos: David, Chiquinho Mól, Eli, Betinho, Careca, Cacá, Tonca e Joãozinho de Curvelo(?), José Afonso (Risadinha).
            O líder religioso era o Padre Theóphilo Lopes de Andrade, incentivador de uma Igreja Popular, Progressista. Junto com os jovens criou o Grupo "Todos por Cristo", o famoso TPC. Muito tempo depois fiquei sabendo que "TPC" queria dizer "Tudo pelo Comunismo". E a bem da verdade nunca houve doutrinação marxista ou quaisquer "ISTAS" no Grupo. Éramos CRISTÃOS.
            E passamos a conviver com a elite rio-pombense. Vou relembrar algumas das moças do "TPC". E disse antes, volto a repetir, mencionarei e omitirei nomes de jovens que enriqueceram aqueles dias distantes.
            Mas vamos lá: Rosa (filha do Naná - Inspetor de Alunos), Maria do Carmo Frederico (da cidade  de Coimbra), Cássia e Atâmis (da cidade de Mercês), Goretti (filha do Professor Ubirajara Pinto de Deus), Eliane (filha do Sr. Élbio Queiróz).
            Não posso jamais esquecer da Rose. O pai dela tinha uma empresa de ônibus que fazia a linha Rio Pomba- Juiz de Fora. Ela nos recebia em sua casa como se fôssemos irmãos mais velhos dela. Um doce de pessoa, a Rose.
            Ah! quase ia me esquecendo da Marisa Furtado, irmão do querido Dezinho. Mesmo depois de 45 anos, guardo um carta que ela me escreveu.
            E a Marlene, irmã do CARPIANO Oncinha(?). Ela depois casou e constitui uma linda Família com o querido e saudoso Betinho. Acredito que o namoro começou nos bastidores do TPC.
            Creio que fazia parte do Grupo a Rita, irmã  da bela e saudosa Marília, que era namorada do Zé Luiz de Mercês e faleceu num acidente neste ano de 1971.
            Feliz a hora em que decidimos ir para um dia de Retiro no Colégio Regina Coeli. 

O Padre Theóphilo era um filho de DEUS. Guardo algumas cartas dele.


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Luiz Carlos Costa (Gavião)



Luiz Carlos Costa (Gavião)
(notícia tirada do Blog - Ubá Notícias - Postagem nº 1694)

            Luiz Carlos Costa, o Gava, era o cronner do conjunto "The Happy Boys", que tinha o Rominho (Rômulo Vieira da Costa) na Bateria, Antônio Campos no Piston, Jacy no Saxofone e o guitarrista (????).
            Estudou na Escola Agrícola de Rio Pomba de 1963 a 1965 quando terminou o quarto ano ginasial. Ainda não era Mestre Agrícola. A primeira turma de Mestr Agrícola a se formar foi no ano seguinte.
            Ontem, pesquisando na internet sobre o Festival Ubaense da Música Popular) encontrei no Blog - Ubá Notícias - Postagem nº 1694) a pérola que transcrevo abaixo:

            Luiz Carlos Costa é o autor do livro "Asneiras, Besteiras e Causos Sérios", que nos conta casos interessantes de sua vida e muitas histórias sobre nossa querida Ubá.      Uma leitura prazerosa para os conterrâneos, amigos e contemporâneos do escritor.
            Luiz Carlos é filho dos saudosos Hélio Costa e Maria José, que residiam na fazenda da Parada Moreira.


Luiz Carlos Costa no 1º FUMP(Festival Ubaense da Música Popular) - Ano: 1965, interpretando a música "Livre Refrão"de sua autoria e do primo Fernando Cruz (Bermuda)



FONTE DE INFORMAÇÃO:

História do Agricolino “Totõe Puxadinha”



História do Agricolino “Totõe Puxadinha”

            Antônio Carlos Costa Soares, nascido em 23/07/1952, em Rio Pomba-MG, distrito “Bom Jardim”, antiga estrada que liga Rio Pomba a Tocantins, morando em ponto equidistante das duas cidades.
            Aos 7-8 anos iniciou alfabetização na única escola rural disponível no distrito, Escola da “Dona Izola”. Escola particular, sem nenhuma ajuda governamental.
            A intenção da querida e amada Professora assim por todos chamada “DONA IZOLA”, era ensinar aos alunos a ler , escrever, fazer as operações matemáticas básicas: somar, diminuir, multiplicar e dividir.
            Dona Izola lecionava para todos seus alunos em um galpão comprido, coberto de sapé, em uma mesa enorme, que acompanhava todo o comprimento do mesmo.
            Veja a logística por ela adotada: Alunos que entraram no primeiro ano, ficavam no canto 1 da mesa. Alunos que entraram a dois anos, ficavam no canto 2 da mesa em frente ao canto 1.  Alunos que entraram a três anos, ficavam no canto 3 ao lado do canto 1. Alunos que entraram a quatro anos, ficavam no canto 4 em frente ao canto 3.
            ETA  LOGISTICA  BOA SÔ!” quando eu tinha dúvida e ficava com vergonha de perguntar à Dona Izola e com medo de levar bronca, perguntava à minha irmã em frente que estava no segundo ano.
            Para completar a caracterização da “ESCOLA DA DONA IZOLA”: Galpão além da cobertura de Sapé, o piso era de terra batida, sem nenhuma parede ou divisória. Fornecido gratuitamente pelo proprietário rural, onde o marido da Dona Izola era funcionário.
            Quem eram os alunos: todos os meninos que atingiam a idade de “ESTUDAR”, filhos de outros proprietários rurais da região e filhos dos agricultores e empregados destas propriedades.
Meu primo veio morar em minha casa, vindo de uma propriedade um pouco mais distante, para também estudar com a Dona Izola, onde iniciamos no mesmo ano.
            Um detalhe não tinha reprovação. O castigo para aquele que não conseguia fazer as atividades didáticos da Dona Izola, era levado para estudar no internato do “Sr. Joãozinho  Loiola” em Tocantins-MG, famoso por aplicar castigos drásticos aos seus alunos em regimes semelhantes aos escravos. Sem comentários, pois não conheci o ambiente.
            No primeiro ano aprendia-se conhecer as letras, formar sílabas, conhecer os números e estudar a tabuada. No final do ano alguns já conseguiam escrever o nome e fazer continhas simples.
            No segundo ano, começava a formar frases, fazer contas maiores e exercitar ditados auxiliados pelos colegas do terceiro e quarto ano. O que muitos ainda não dominavam bem.
            No terceiro ano, continuava exercitando ditados, recebendo algumas orientações de ciências, geografia e história, através de pontos ditados de livros básicos. Na matemática já aparecia contas de juros simples e contas práticas de peso do porco abatido para venda, onde teria que abater do peso bruto, o peso da canoa que abrigava o porco na balança no momento de pesar (Popularmente chamada a venda do CAPADO GORDO).
            O quarto e ultimo ano era muito parecido com o terceiro, apenas quem tinha maiores interesses é que permaneciam na escola. Uma boa parte dos que não saíram ao longo de seu terceiro ano, sairiam ao longo do quarto. Poucos chegavam ao final do quarto ano.
            Assim é que, fiquei fazendo o quarto ano e meu primo foi pra cidade de Rio Pomba fazer o Terceiro ano no Grupo Escolar Municipal. Pai dele conseguiu mudar do meio rural para a cidade.
            Ao terminar o quarto ano, veio o primeiro desafio. Sair para ir estudar na cidade. Dito por todos que eu não iria deixar a “Barra da saia de minha Mãe”. Mas quando os meus pais me fizeram esta oferta, não pensei duas vezes, “Tô fora” é nesta que vou para a casa de meu primo na cidade.
            Nestes tempos é claro, eu já tinha exercitado algumas atividades rurais, da prática comum da lida diária, que não eram nada fáceis de executar: raspar as “bostas” de boi no curral, descascar milho com caruncho (ninguém merece), beneficiar o milho no moinho de pedra (carregava o milho ensacado nas costas do paiol ao moinho), capinar lavouras, tratar dos porcos, beneficiar fumo (trabalho gostoso de fazer), etc.
            Meus pais então me ofereceram estudar ADMISSÃO com o Cícero, para entrar na Escola Agrícola. Espécie de um cursinho intensivo de um mês, para prestar o concurso. Para mim foi uma grande novidade, pois não tinha a mínima ideia do que isto significava. Vale aqui ressaltar, que nenhum outro aluno da Dona Izola tinha saído para continuar os estudos.
            ADMISSÃO com Professor Cícero e mais dois irmãos Jânio e Jaime, iniciou-se logo quando mudei para cidade de Rio Pomba. Todos três professores muito capacitados e exigentes. Cícero lecionava Português; Jânio Matemática e Jaime Ciências, História e Geografia.
            No primeiro dia de aula, Cícero iniciou ditado que estava fluindo normalmente, até quando ditou algo para mim desconhecido: “Ponto Parágrafo”, “Ponto de Exclamação” e “Ponto de Interrogação”.
            Ao ditar um destes pontos e continuar ditando, eu pedia a ele para aguardar. Na terceira interrupção ele perguntou o porquê da paralisação. Eu disse, estou escrevendo e você continua ditando.... Foi quando ele resolveu ver o que eu estava escrevendo. Literalmente escrevia no ditado o que escrevi acima, pois não conhecia a grafia dos mesmos. Quando o professor Cícero viu teve de segurar firmemente a sua boca para não rir. No final da aula, me deu instruções para entendimentos.
            Por estas e outras observações, ficou claro que eu não tinha nenhuma base para prestar o concurso da Escola Agrícola o que foi comprovado com minha reprovação no mesmo.
Desta forma fui fazer o 4º ano no Grupo Escolar São José em Rio Pomba, onde meu primo estudava. Ele na classe de Elite e eu na Segunda Classe.
            Concluído o Grupo, fizemos a admissão e ingressamos os dois juntos  na mesma sala, no Ginásio Estadual Professor José Borges de Moraes em Rio Pomba.
            Neste ocorreu uma passagem histórica marcante, também por falta de base: Professor de Português, Ubirajara Pinto de Deus, muito enérgico e dono de uma didática formidável para ensinar que nunca mais encontrei, adotava critérios de avaliação com provas mensais, sabatinas escritas quando achava que devia aplicar e arguições diárias sobre o dever passado para casa, aplicado no livro adotado, contido aí 5 a 10 questões, da seguinte forma: ao chegar em sala de aula rezava o Pai Nosso rapidamente e daí já colocava a mão no bolso do jaleco e tirava um número sorteado para vir ao quadro e responder duas questões do dever que ele ditava para o sorteado escrever no quadro negro.
            Daí gerava uma nota de 1 a 10, da mesma forma que as outras avaliações. Esta arguição tinha um peso menor que a sabatina e esta um peso menor que a prova. Para mim que não tinha uma base boa do Grupo Escolar, eu tinha muita dificuldade de acompanhar o ritmo do professor Ubirajara, mas dava uma sorte tremenda, pois nunca era sorteado para arguição.
            Se fosse sorteado certamente viria nota ruim, que baixaria a nota da prova no final do mês. Mas já no início do segundo semestre entrou uma matéria de verbo que eu dominava melhor do que as outras e peguei muito gosto, dando muito sorte de ser arguido por várias vezes e tirando notas 8 a 10.
            Logo em seguida entrou outra matéria que eu não estava conseguindo absorver nada. Não dei muita bola não, acreditando na sorte de que não seria igualmente antes do verbo receber o chamado da arguição. Engano meu, fui o primeiro a ser chamado ao quadro após o Pai Nosso.       Não acertei quase nada. Mas o professor não levou neste dia, uma quinta feira, o Diário de Classe, onde ele anotava todas as notas. Desta forma o professor pediu ao colega Ricardo Mattos, referência da turma pela alta inteligência, porém quase não enxergava, para anotar os arguidos com suas notas. Na próxima aula na terça seguinte, ao chegar em sala, o professor Ubirajara pediu ao Ricardo para passar a nota dos arguidos. Ricardo sem nenhuma anotação olhou com sua costumeira dificuldade, quase que apalpando me abordou: você foi arguido Antônio Carlos e caminhou até o Diário de Classe e olhou as notas grandes que eu havia tirado naquele mês e voltou-se para mim e disse: foi oito não foi Antônio Carlos? Eu mais que ligeiro respondi que SIM. Mas outro colega, meio bichoso logo virou e disse: não, foi dois. Tive que arrumar forma enérgica de fazê-lo calar. Na semana seguinte, professor Ubirajara chega na sala de aula e após o Pai Nosso, manda arrancar uma folha do caderno para Sabatina, quando enterrei até os cabos.             No final do mês na prova  não fui bem. Professor Ubirajara na semana seguinte chega com as notas do mês e joga a maior indireta: “Tem aluno aqui que está me avacalhando, tira nota boa nas arguições, não estuda para a sabatina e me tira nota ruim na prova. ALUNO COM ESTA CONDUTA comigo não passa, até o final do ano eu acabo com estas notas boas dele”. Tive que fazer das tripas o coração para não receber esta punição.
            Com minha aprovação no primeiro ginasial, meu destino foi outro. Meus queridos pais já tinham se articulado para conseguir uma transferência para Escola Agrícola, através de nosso saudoso Professor Aristóteles Ottoni Cardoso (Tote)  e nossa querida Professora Maria Marotta, que levaram o assunto para o Dr. Último de Carvalho, idealizador e fundador da Escola.  Dr. Último mandou chamar meu pai e foram em comitiva visita-lo com nosso parente Nonô Costa de quem ele gostava muito, pois dominava a política no nosso distrito. Neste dia todos os presentes, professor Tote, Dona Marota, Nonô e Papai, souberam definir o meu perfil e depois de muita conversa e prosa, Dr. Último definiu: “Eu idealizei e fiz a Escola Agrícola para meninos nascidos na roça, filhos de produtor rural e agricultores, com aptidões do meio rural, e tenho o maior prazer e orgulho de pedir ao Dr. Carlos Bastos, então diretor na época, para ingressar este menino na Escola”.
            Em comemorações recentes, início de 2016, no hoje IFET ou simples IF, sendo homenageado no evento o filho do Dr. Último de Carvalho,  em discurso relembrou estes dizeres do pai. Na fundação da Escola desde o seu primeiro discurso, meu pai não cansou de afirmar que a Escola estava sendo feita para filhos de produtores rurais e agricultores. Que bela percepção teve este grande homem, construindo a Escola para todos nós. O que ele nos deu, ninguém tira, pois está na nossa formação, base de todo nosso conhecimento vivido e aplicado no dia a dia.
            Na Escola gostaria apenas de destacar o meu início, pois ingressei no segundo ano de Mestre Agrícola, juntamente com nosso saudoso colega Roberto Caetano Gonçalves (Betinho). Na sala de aula com quem fiz primeiros entendimentos foi  com o colega Carlos Eugênio Martins (Cacá de Rodeiro), Antônio Carlos Motta (Toninho de Rio Pomba). Na primeira prova de matemática, com Professor  Hênio Pereira , quando acertamos tudo, eu e o Toninho. Eu tinha sido aluno do Professor Hênio no Ginásio em Rio Pomba, conhecia bem o jeito de suas provas. Eu e Toninho estudamos juntos e faturamos a nota 10. Na aula seguinte, Sr. Hênio esqueceu as provas em casa e limitou-se a dizer que o resultado das mesmas, os dois Antônios de Rio Pomba tinha o “Gabarito”, pois eram os únicos que tinham acertado tudo. Quem lembra da grande gozação que foi de todos os outros colegas!......Foi muito bom, pois facilitou assim o entrosamento com a turma.
            Existe ainda uma série de casos e causos ocorridos na Escola, que em outras oportunidades podemos apresentar.

UM GRANDE ABRAÇO A TODOS IRMÃOS AGRICOLINOS

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Zé do Gora



Zé do Gora

            O ubaense Luiz Antônio Barbosa Brandão, saudoso Zé do Gora, era filho de um gerente de banco. Para os padrões da maioria dos alunos da Escola, de origem humilde, podia ser considerado rico.
            E o Zé do Gora tinha uma vida privilegiado na Escola. Quando, quase ninguém tinha grana para comprar fiado um "cigarro picado" do Hélio Lamas de Faria (Surubim), o Zé do Gora chegava toda semana com, no mínimo, um pacote de Hollywood.
            Na Escola, andar com um maço de cigarros era sinal de status. Pitava-se em três etapas. Fumava a primeira parte, em torno de dois terços, ou até menos da metade. Aí o cigarro virava guimba. E sempre tinha um aluno, um amigo que já tinha pedido a "binga", essa era a palavra usada. Este um terço de cigarro, depois, se transformava num pequeno toco denominado por "sub". E um outro aluno fumava este restinho de nicotina.
            No caso do Zé do Gora ele já tinha definido que se o Luiz Américo Ferreira estivesse por perto a "binga" seria dele. Às vezes o Luiz Américo nem estava com vontade de fumar, mesmo assim dava um ou dois tragos e passava a outro a "sub.
            O Zé do Gora era fã do, bom de bola e de caráter, Luiz Américo. Mas quem não era fã do Luiz Américo? Eu, por exemplo, era e continuo admirá-lo. Tenho a honra de tê-lo como amigo e conterrâneo.
                No refeitório ter a possibilidade de sentar junto do Zé do Gora era garantia de ter uma fatia de KITUT, um enlatado de carne de boi prensada, que ele trazia de casa, e distribuía "irmãmente" entre os seis alunos da mesa.  Um bom adjutório,subterfúgio para aguentar, por vezes, a comida ruim do dia. Algumas vezes obtive esta benesse do amigo Zé do Gora.
            Raras pessoas tinham um rádio na Escola. O Batatão (Francisco Bomtempo) fez até pose para fotografia com o seu possante de estimação. O Zé do Gora também tinha um poderoso rádio Philco. Nele, escutávamos memoráveis partidas de futebol. Era só por a imaginação a funcionar e víamos o Santos de Pelé e Cia. O meu Flamengo de Fio Maravilha, Doval, Carlinhos, Almir Pernambucano, Silva, Reyes, Onça, Manicera, Rondinelli (Deus da Raça)  e Zico. O Fluminese do Cacá com Félix, Altair , Marco Antônio, Procópio,  Denílson, Flávio , Cafuringa, Samarone, Amoroso, Gílson Nunes. O Vasco da Gama do Zé do Gora com Andrada, Brito, Fontana, Lorico, Célio, Valfrido, Alcir Portela, Danilo Menezes, Saulzinho, Bianchini.
            Nos jogos à noite fugíamos do quarto e íamos ouvir as partidas atrás do dormitório. Narrações emocionantes de Jorge Curi e Waldir Amaral com os preciosos comentários de João Saldanha e Luiz Mendes.
            Tínhamos a cumplicidade dos guardas de alunos para este deslize desde que não perturbássemos o sono dos outros alunos que não gostavam de futebol.
            Nesta época, de 1965 a 1972, foi um dos piores períodos do Vasco do Gama, mesmo assim o vascaíno Zé do Gora não enjeitava nenhuma aposta. E o danado tinha sorte, mesmo com o Vasco ruim das pernas, quando ele apostava o seu time ganhava.
            Meu avô paterno, Marcílio Vieira, dizia que "chuva gosta de molhado" e "dinheiro de quem dinheiro". Acho que era por isto que o Zé do Gora ganhava a maioria das apostas.
            No seu poderoso rádio ouvíamos o programa de Hélio Ribeiro um dos maiores radialistas de todos os tempos. Chico Anysio prestou-lhe uma homenagem quando criou o personagem Roberval Taylor.
            Além de uma bela voz, Hélio Ribeiro fazia versões livres das músicas estrangeiras que estavam no auge do sucesso. Recitava poesias e lia frases próprias e de autores famosos. Um exemplo apenas: "Infeliz daquele que pensa que limpa o jardim da sua casa jogando sujeira no jardim do vizinho."
            Por mais que eu queira explicar ou descrever o programa do Hélio Ribeiro não conseguirei. Só ouvindo-o. Hoje na internet é possível acessar programas que ele apresentou. É só recorrer, como sempre, ao Google.
            Ansioso, mesmo sendo bom aluno, o Gora entrava em pânico em algumas provas, principalmente na matéria Desenho lecionada pelo Brandão. E nestas ocasiões, durante a prova, dizia que tinha orgasmos. De nervosismo. Acreditem se quiser.
            A última vez que vi o Zé Gora foi em 1973 num Festival Ubaense de Música Popular (FUMP). Eu mandei três músicas para concorrer. Todas elas se classificaram. Acho que tinham poucos concorrentes. Escassez de compositores. Como trabalhava na CEMIG, em São João del Rei, pedi para apresentar as três canções no mesmo dia.
            Uma das músicas que eu botava fé era "Andorinha", um belo poema do conterrâneo José Geraldo que eu musiquei. E fui para o palco. Cantei a primeira. Mais à frente cantei a segunda. Quando me chamaram para interpretar a terceira música a plateia impaciente, entre apupos, gritou "DE NOVO?"
            Fiquei intimidado, errei a letra, me confundi. Um desastre. Mesmo assim uma das músicas classificou para a finalíssima, com direito a filmagem pela TV Alterosa, gravação em videotape que sumiu no tempo.
            Mas o que eu queria narrar é o meu último encontro com o Zé do Gora. Assim que terminei a minha apresentação no palco do Tabajara Esporte Clube, ele invadiu o palco, me abraçou, me beijou, me levantou, me sacudiu, rodopiamos. Vibramos como se eu tivesse marcado um gol de placa.
            Esta é a última lembrança que guardo do Zé Gora. E me emociono.
  
LINKS para:

Programa Hélio Ribeiro
http://www.helioribeiro.com/v4/

Rádio Hélio Ribeiro
http://www.helioribeiro.com/radio/