domingo, 13 de novembro de 2016

Surra Moral



Surra Moral

            Comentei, em histórias anteriores, sobre o Padre Geraldo e o Dr. Wilson, professores de Português e História.
            A obrigação do estudante é passar de ano. E na Escola Agrícola de Rio Pomba  para "passar direto" sem prova final era necessário obter a média SETE durante o ano letivo. Não era tarefa fácil.  Como o Padre Geraldo não dava moleza, ninguém conseguia esta façanha de passar direto. Tornava-se uma missão impossível "passar direto". Quem por acaso conseguisse esta proeza  começaria as férias com antecedência de no mínimo uma semana.
            Em 1966, no segundo ano ginasial, o Professor Padre Geraldo resolveu aplicar a prova de outubro valendo para o próprio mês e também como prova final. Assim quem tirasse boa nota no mês de outubro, consequentemente, tiraria a mesma nota na prova final. E quem enterrasse na prova de outubro estaria "fodido" na prova final.
            Lembrei, em "post" anterior, que quase todos os alunos ficaram em prova final de História. A honrosa exceção, na turma do segundo ano ginasial, foi o Carlos Eugênio Martins, o Cacá. Dessa forma enquanto toda classe teria que se virar nas provas finais de Matemática, Geografia, Iniciação às Ciências, Francês e História, o Cacá estava livre, leve e solto para ir mais cedo para a sua terrinha Natal: Rodeiro.
            Cacá, como todo rapazote de quatorze anos, quis tirar uma casquinha nos colegas e amigos de classe. Fez as malas e passou na sala de aula para despedir, em tom de gozação, dos alunos que ainda continuavam na luta para passar de ano e disse "adeus... até o ano que vem... etc... etc...". E foi embora.
            Acontece que quando o Padre Geraldo corrigiu a prova do mês de outubro o Cacá não foi bem. E ficou para segunda época. Teve que retornar à Escola para famigerada prova, que hoje chamam de "recuperação".
            Junto com o filho veio o pai, Sr. Agnelo Martins, agricultor, pequeno fazendeiro, lavrador, mãos calejadas, rosto marcado em rugas castigado pelo sol inclemente de quem trabalha no campo. Homem de pouco estudo, mas de uma sabedoria luminosa adquirida com a vida, o Sr. Agnelo no meio de toda a estudantada deu um bronca, reprimenda exemplar, passou um carão público no menino Cacá. Disse-lhe que "se tomasse bomba, voltaria para o Rodeiro capinar e fiar fumo em corda". Disse isto e muito mais.
             Foi uma exemplar SURRA MORAL. Resultado. Cacá passou de ano. E a partir daí nunca mais teve notas baixas. Tornou-se o primeiro aluno da sala. Somente  no Curso Técnico surgiu o João Coelho, de Guidoval, que disputava com ele as maiores notas da turma. O Cacá, fez uma carreira acadêmica de causar inveja e espanto. Mestrado, Doutorado, PHD,  com centenas de artigos científicos publicados. Tornou-se o Dr. Carlos Eugênio Martins, mas para mim será sempre o Cacá de Rodeiro, filho da Mãe Bia e Sô Agnelo. Um amigo, um irmão.

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