terça-feira, 3 de abril de 2018

Professor Ary Resende

O Professor Ary Resende era um homem bom. Contava as suas mentiras, mas quem não conta.
Tinha uma dicção que deixava a desejar para um profissional que necessita da voz para transmitir os seus ensinamentos.  Mesmo assim aprendi algumas coisas com ele. Não aprendi mais por ser um aluno relapso.  Vagabundo mesmo. Estava tentando aprender a tocar violão e estou tentando até hoje. O Professor Domingos Roberti deixava o violão do colégio comigo. E eu andava com o violão pra tudo quanto é canto. Assistia as aulas, na última carteira, com o violão ao lado. E quando achava que a aula seria desinteressante, pegava a viola e ia matar aula num canto sossegado do colégio. Algumas vezes cruzei com o Professor Ary adentrando a sala e ia saindo, gazeteiro contumaz, para cabular mais uma aula.
E é claro que ele não gostava desta minha atitude irresponsável, mas nunca me dedurou na Secretaria ou à direção da Escola. 
Apenas lamuriava, com a sua dicção puxando xis e esses, para os alunos presentes:
“Estes alunos que não assistem as aulas, só quero ver como eles irão se sair na hora da prova.”
Mas como era uma matéria “decoreba” era só pegar os cadernos dos colegas e memorizar alguns dos ensinamentos da deusa Ceres. Aí as notas davam pro gasto, para passar.
Mas o melhor do Professor Ary não eram os seus ensinamentos agrícolas e sim as suas histórias e estórias fábulas, fabulosas.
Uma delas, não esqueço até hoje. 
É do tempo que ele trabalhava na ACAR e ía atender uma fazenda. Chovia torrencialmente. Estrada de terra, barrenta, um lodo. Praticamente intransitável.
E o Professor Ary com a cara mais limpa que Deus lhe dizia que dirigia, dirigia, e nada de chegar à propriedade rural. Chuva forte, visibilidade quase zero.
E quando ele menos espera deu pra vislumbrar que estava chegando de novo na cidade que deixara havia mais de uma hora.
E mostrando sério, para demonstrar veracidade a sua narrativa, dizia:
“A estrada estava tão ruim e o carro derrapando tanto que ele girou no meio da viagem e nem notei, retornando à cidade”.
Como disse no início o Professor Ary Resende era um homem bom, uma boa alma. Que DEUS o tenha,