segunda-feira, 25 de julho de 2016

Um campesino em NY (J R Magalhães)

UM CAMPESINO EM NY
(J R Magalhães)

PREFÁCIO / SINOPSE

Filho de Mário Carneiro Magalhães (Agricultor) e Odilia Fernandes Magalhães (Doméstica e Servente Escolar), José Ronaldo Magalhães nasceu em 11 de Julho de 1949, às 8 horas, num Ranchinho beira chão e beira serra, Córrego Santo Anastácio, Município de Ubá - MG, depois de muito trabalho da Parteira. Estava provavelmente pensando que iria enfrentar!
Logo ao nascer, bastante chorão e até que tinha razão, pois não tinha leite da mãe e teve que mamar nas mães de leite da vizinhança, quando tinha sobra. Por chorar demais, às vezes vencia a impaciência de sua mãe que (coitada quem sabe tinha depressão pós-parto) o colocava fora da casa onde era o ‘estranho’ no espaço dos porcos e galinhas (palavras da Tia Fiinha). 
Com um ano de idade começou andar, disputava seu espaço com os “bichos”, e mostrava-se uma criança totalmente destemida. Era esperto e curioso diante de qualquer coisa nova que via. A expressão de sua primeira descoberta foi: “O leite bom da mãe preta”.  
Aos cinco anos, queria ter luz elétrica em casa e começou inventar ”moinho e geradores hidroelétricos” que nunca funcionaram a contento. Queria inventar asas, queria voar como as Galinhas de Angola voavam dos morros até o terreiro de casa.
Aos sete anos começou trabalho sério: vaqueiro e lenhador. Aos oito anos inicia a intimidade com o trabalho de enxada, conhecendo as marcas Tarza e Jacaré. Nesta atividade vai até os 15 anos. Neste período foi também vaqueiro do fazendeiro Caio (tempo ruim). Estudo?Três meses para aprender a ler, escrever e as quatro operações matemáticas, estava de bom tamanho para quem tinha que competir “carreira” com os peões. Com essa idade já acumulava vários títulos como: quem capinava maior área por dia, quem colocava as juntas de bois no carro em menos tempo, o mais veloz plantador de fumo, carregar de sacos de arroz por 30 metros (essa última era dura real estupidez!). 
Aos 15 anos e meio, ainda “semianalfabeto”, aparece a salvação. Um amigo, Ulisses Rodrigues, disse que estava sendo inaugurada uma Escola Agrícola Federal em Rio Pomba. Estavam abertas as inscrições para candidatos de todo Brasil para a prova de admissão ao ginásio (hoje seria a 5ª série). O amigo disse ao seu pai que seria a oportunidade. Ofereceu pagar um cursinho preparatório de admissão ao ginásio, na cidade, e poderia ir com o filho dele, que era candidato fortePoderia entrar na carreira de estudos para ser “alguém”. Já estava “sonhando alto” sentindo que não teria bom futuro na enxada, aceitava de pronto a oferta. Foium dia no tal cursinho, mas a professora (Dona Edir) ameaçou bater, e não voltou mais. Mas encarou o desafio de uma forma ainda mais corajosa. Já que sabia ler e existia um livro “Admissão ao Ginásio” que tinha toda matéria da prova, encarou o dito livro, maior do que Dicionário do Aurélio ou Bíblia Sagrada. Estudava só, a luz de lamparina e algumas vezes apareciam primos em sua casa para discutir problemas de matemática. 
Chegou o dia do exame de seleção nacional. Tio Carlito, o tio mais rico, o levou para fazer a prova. Tio Bom (que Deus o tenha). Fez a prova, sentiu que foi muito bem, mas voltoupra casa com muito pouca esperança. Tinha milhares de candidatos de vários estados do país e muitos estudantes ricos e este já “meio velho” e pobre “achava que não tinha chance”.
Volta pra enxada e já estava esquecendo o concurso quando chegou lá em sua casa um Técnico da ACAR (Agência de Assistência Rural). Estava lhe procurando, a pedido da Escola Agrícola de Rio Pomba. “Você pode arrumar as malas agora. A Escola já te enviou vários telegramas, mas como o correio desconhece “Córrego Santo Anastácio” a mensagem voltaFinalmente a Escola, graça a Profa. Maria Marotta, que pediu ajuda a ACAR e o DER-MGpara lhe procurar, devido a sua destacada classificação no concurso de admissão. Com essa bela notícia quase chorou. Além de passar era um estudante importante. Aqui vale resaltar que Dona Marotta, essa Santa Criatura de Deus, foi um Anjo que caiu do céu para mudar o rumo da história deste campesino e de muitos outros que estão espalhados por este mundo a fora. A Ela toda Gratidão do Universo.
Diante da noticia, o pai, cheio de orgulho, foi depressa à cidade, comprou uma mala ‘sem alça’ e algumas coisas que seu filho nunca tinha usado como sabonete, pasta de dente, pijama (esse nunca usou mesmo). Foi o menino para o novo mundo. Bom, agora podia sonhar até em trabalhar no Banco do Brasil! 
Chegando a escola, começa ver padrões de riqueza. Ganha sapatos (que também não tinha antes), uniforme, “bota de soldado”, conhece então a geladeira, fogão a gás, televisão e rádio de pilha. Mas mesmo assim era chamado pelos colegas, de matuto, roceiro, retireiro, caipira e todos mais adjetivos para desqualificar um sonhador campesino. Fazer o quê? Nem sabia falar direito mesmo!
O ano escolar foi uma beleza. Boa cama, boa alimentação (tinha até que comer beterraba e repolho que detestava). As aulas espetaculares eram de manhã, e à tarde tinha trabalho (lavar estábulo e pocilga, cavar tanques para peixes e capinar as hortaliças). À noite tinha horário de estudo e às vezes esporte. Assistia às aulas, dava uma olhadinha nas matérias e estava bom. Ficava intrigado porque muitos alunos estudavam tanto! Nesta escola conquistavamedalha de salto em altura e recorde mineiro de exercícios abdominais (400).
Em novembro estava com muita saudade de casa e como já tinha passado de ano, podia ir embora de férias mais cedo. Que férias! Cortava e picava lenha, enchia o carro de boi e vendia na cidade. Plantava batata doce, colhia, lavava e levava no burrinho para vender. Era um descanso mental fantástico!
Assim, quatro anos se passaram. Esta escola não tinha o segundo grau e estava na hora de novo desafio, o exame de seleção para entrar na Escola Agrotécnica Diaulas Abreu, em Barbacena. Desta vez foi fácil, já tinha mais experiência em fazer provas. Diaulas Abreu, que escola de vida! Trabalhou muito nos campos experimentais e aprendeu muita coisa. Foi um campeão de física, medalha de prata na maratona de setembro, fez Curso Técnico de Aviação Agrícola, e teve várias ofertas de emprego como Técnico em AviaçãoGanhou uma bolsa de estudo paro Curso de Medicina no Chile (mas achou que era muito longe, fim do mundo). E escolheu o vestibular na Universidade Federal de Viçosa. 
O Vestibular na UFV foi muito concorrido naquele ano, devido ao plano de investimento do governo no setor agrário. Ainda assim conseguia a maior nota de física (proeza). Quatro anos de universidade (tempo bom). É convidado para almoçar com o Magnífico Reitor Dr. Edson Potsch, conhece os primos Gilson e EdnaAli recebe suporte, modelo e ídolo para seguir. Preparava o Engenheiro para o futuro. Durante o curso universitáriotrabalhava na Biblioteca, no Restaurante Universitário e em pesquisa de Iniciação Científica (CNPq). Nas fériasera servente de pedreiro e pedreiroEm um único período férias, construiu com seu cunhado José Lacerda, a Escola Rural da Miragaia, município de Ubá - MG (um fato marcante na sua vida). Terminou a Universidade, cheio de possibilidades e escolhas de empregos.

Escolheu a Embrapa, porque visionava pesquisa e a possibilidade quase certa de fazer Mestrado e em curto prazo o Ph.D. nos States. Este objetivo foi alcançado rapidinho. Um ano de trabalho no Rio Grande do Sul (Embrapa - IPEAS) e estava de volta a Universidade para um meteórico Curso de Mestrado. Daí, num intervalo de pouco mais de dois anos estava de vôo para a terra de ‘Tio Sam’. 
Nos Estados Unidos! O Campesino do Córrego Santo Anastácio? Isso mesmo. Mas agora o “bicho pega”. Pensava que sabia o Inglês. Mas nem o “ingrês”. Não entendia nada e ninguém o entendia. Na primeira aula (Biochemistry 562 - Purdue University), o Professor falou o tempo todo sem escrever uma palavra no quadro. Também não entendia nada e não escrevia nem se quer uma palavra nas anotações. Percebeu que o Professor falava muito num tal de Malaquias. Devia ser um homem muito famoso. Depois foi descobrir que era “molecules”. Estava mesmo “perdido no tiroteio”. Primeira prova: 2º lugar, mas de baixo para cima. A segunda pior nota dos 198 estudantes, 34%. Era para desistir. Segunda prova 62%, um pouco melhor, mas ainda abaixo de D na curva de avaliação. Nessas alturas já dava pra chorar com o Professor pelo menos para perguntar o que devia fazer. Curtamente ele disse: Continue melhorando que tem chance. Seguiu o conselho. Veio a prova final (peso 4). No dia da entrega das provas com as notas, o que se fazia na ordem decrescente, escutou o professor repetir um nome estranho “MEGALREIS”? E como ninguém se movia para buscar a prova, se atreveu ir até a mesa para checar. Era Magalhães! A nota mais alta da prova final de “Biochemistry 562”, 97%. Nem podia acreditar no que estava vendo naquele mundo de americanos! Era a maior proeza e maior orgulho que enchia o peito do sonhador! 
Isto era o começo. Muito trabalho e dificuldades pela frente. Um exame “preliminary” entre fogo cruzado de um professor da banca e seu orientador, resulta numa dolorosa reprovação. Ainda bem que a dor durou pouco. O presidente do conselho de pós-graduação, ciente do fato, solicitou um novo “preliminary” na semana seguinte com a substituição do dito professor. 
Em poucos meses, uma Tese defendida que resultou em sete Artigos publicados em Revistas Internacionais. Começa definitivamente a gloriosa carreira científica. 
De volta à Embrapa, Brasília (cidade de muitos amigos). Mais três anos de trabalho em pesquisa e retorna a Purdue University para Pós-Doutorado, com o objetivo de levar a cabo oprojeto apresentado àquela universidade como parte das exigências para o PhD. Em 13 meses o trabalho estava pronto. Uma nova função da enzima glutamato desidrogenase estava descoberta. Os resultados renderam um capítulo de livro publicado nos Estados Unidos, que muda uma faceta da bioquímica em planta, mais seis Artigos em Revistas Científicas, uma apresentação no Congresso em Iowa (pelo Professor orientador por estar de volta ao Brasil sem recurso para a participação), uma viagem a convite da União Soviética para mostrar o trabalho em uma Academia de Ciências, e é classificado como pesquisador do CNPq - Nível 1A (o mais alto nível) e assessor deste conselho. Ganha, como orientador, o Prêmio Jovem Cientista das Organizações Globo, Gerdau e CNPq. 
Nos dez anos seguintes atinge uma elevada média de publicações científica, mais alta do que a soma dos pesquisadores da unidade de sua Empresa. Neste período fica entre os dez melhores pesquisadores de sua área de pesquisa no CNPq. 
Em 1998 volta aos Estados, Universidade da California-Davis. Neste ano, três pesquisadores ganham o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, pela descoberta das funções biológicas do óxido nítrico (NO), em humano. Molécula sinalizadora de expressão gênica, sinalizadora de estresse e defesa anticâncer. Despertado por essa descoberta, discute com o professor orientador a possibilidade de visualizar o NO em plantas. Não foi muito acreditado, mas conseguiu recursos para pagar o risco da tentativa. Em poucos meses tinha publicado, pela primeira vez, a imagem confocal do NO em planta, foto de capa de Revista Internacional. Em seguida demonstrava a relação do NO com apoptose e descobre a enzima responsável pela produção deste radical livre em planta. Uma explosão de pesquisa com NO acontece no mundo.
Em 2000, de volta ao Brasil, é convidado pela Editora Premium Press LLC - Houston USA, para Editar um Livro “NO Signaling in Higher Plants”.  Um desafio. Uma missão de sucesso. 
Em 2005 vem a gratificação. No Congresso da Society for Experimental Biology” -“Symposium on Nitric Oxide in Higher Plants” em Barcelona, recebe Homenagem Surpresa dos Pesquisadores do mundo do NO. O Apogeu da Glória! Nem podia acreditar no que estava acontecendo. Entendia neste momento o quanto importante é o reconhecimento para o ser humano! O alimento da Alma! Que Deus generoso e Bom Pai! Quem nem conhecido é na sua cidade natal! Está aí realizado. Está consumada sua História. Missão comprida e missão cumprida. É hora de voltar para o seu chão. Está na hora de voltar para seu Xamã.
J R Magalhães é Engenheiro e Master pela Universidade Federal de Viçosa (1973 e 1977), Ph.D. Fisiologia Vegetal (1983) e Post-Doctor em Fito-Bioquímica pelas Universidades: Purdue University, USA (1986/1987), Tsukuba University, Japan (1989), University of California-Davis (1998/2000). Líder de Pesquisa na Área: Óxido Nítrico (NO) Como Sinalizador de Expressão Gênica e Estresse em Plantas; Editor do International Journal Physiology and Molecular Biology of Plants, Consultor da Fapesp e CNPq; Orientador e co-orientador de estudantes de pós-graduação nas Universidades, USP, UNICAMP, UFV, UFMG, UFRRJ e UEM. Mais de 200 publicações, incluindo 80 Artigos Científicos publicados em Revistas Internacionais indexadas,mais de 1600 citações no ISI Web of Science, quatro livros e 10 capítulos de livro. Participação em mais de 60 Congressos Internacionais em diversos países, incluindo USA, UK,Canada, Australia, Japão, Russia, Austria, Spain, Netherlands, Portugal, Mexico, Costa Rica, Peru, Bolivia, Colombia e Argentina. (Lattes CNPq)





sexta-feira, 22 de julho de 2016

UM CAMPESINO EM NY (J R Magalhães)

UM CAMPESINO EM NY
(J R Magalhães)


PREFÁCIO / SINOPSE

Filho de Mário Carneiro Magalhães (Agricultor) e Odilia Fernandes Magalhães (Doméstica e Servente Escolar), JR nasceu em 11 de Julho de mil novecentos e antigamente, às 8 horas, num Ranchinho beira chão e beira serra, Córrego Santo Anastácio, Município de Ubá - MG, depois de muito trabalho de ajuda da Parteira Dona Benta LeontinaDevia estar pensando no que iria enfrentar!

Logo ao nascer, bastante chorão e até que tinha razão, pois não tinha leite da mãe e teve que mamar nas mães de leite da vizinhança, quando tinha sobra. Por chorar demais, às vezes vencia a impaciência de sua mãe que (coitada quem sabe tinha depressão pós-parto) o colocava fora da casa onde era o ‘estranho’ no espaço dos porcos e galinhas (palavras da Tia Fiinha). 

Com um ano de idade começou andar, disputava seu espaço com os “bichos”, e mostrava-se uma criança totalmente destemida. Era esperto e curioso diante de qualquer coisa nova que via. A expressão de sua primeira descoberta foi: “O leite bom da mãe preta”. Aos cinco anos, queria ter luz elétrica em casa e começou inventar ”moinho e geradores hidroelétricos” que nunca funcionaram a contento. Queria inventar asas,queria voar como as Galinhas d’ Angola voavam dos morros até o terreiro de casa.

Aos sete anos começou trabalho sério: vaqueiro e lenhador. Aos oito anos inicia a intimidade com o trabalho de enxada, conhecendo as marcas Tarza e Jacaré 2½ libras. Nesta atividade vai até os 15 anos. Neste período foi também vaqueiro do fazendeiro Caio (tempo ruim). Estudo? Três meses para aprender a ler, escrever e as quatro operações matemáticas, estava de bom tamanho para quem tinha que competir “carreira” com os peões. Com essa idade já acumulava vários títulos como: quem capinava maior área por dia, quem colocava as juntas de bois no carro em menos tempo, o mais veloz plantador de fumo, carregar de sacos de arroz por 30 metros (essa última era dura real estupidez!). 

Aos 15 anos e meio, ainda semianalfabeto, aparece a salvação. Um amigo, Ulisses Rodrigues, disse que estava sendo inaugurada uma Escola Agrícola Federal em Rio Pomba. Estavam abertas as inscrições para candidatos de todo Brasil para a prova de admissão ao ginásio (hoje seria a 5ª série). Disse para seu pai que seria a oportunidade. Ofereceu pagar um cursinho preparatório de admissão ao ginásio, na cidade, e poderia ircom o filho dele, que era candidato fortePoderia entrar na carreira de estudos para ser “alguém”. Já estava “sonhando alto” sentindo que não teria bom futuro na enxada, aceitava de pronto a oferta. Foi um dia no tal cursinho, mas a professora (Dona Edir) ameaçou bater, e por isso não voltou mais. Mas encarou o desafio de uma forma ainda mais corajosa. Já que sabia ler e existia um livro “Admissão ao Ginásio” que tinha toda matéria da prova, encarou o dito livro, maior do que Dicionário do Aurélio ou Bíblia Sagrada. Estudava só, a luz de lamparina e algumas vezes apareciam primos em suacasa para discutir problemas de matemática. 

Chegou o dia do exame de seleção nacional. Tio Carlito, o tio mais rico, o levou para fazer a prova. Tio Bom! Fez a prova, sentiu que foi muito bem, mas voltou pra casa com muito pouca esperança. Tinha milhares de candidatos de vários estados do país e muitos estudantes ricos e este já “meio velho” e pobre “não tinha chance”.

Voltou pra roça e já estava esquecendo o concurso quando chegou lá em sua casa um Técnico da ACAR (Agência de Assistência Rural). Estava lhe procurando, a pedido da Escola Agrícola de Rio Pomba. “Você pode arrumar as malas agora. A Escola já te enviou vários telegramas, mas como o correio desconhece “Córrego Santo Anastácio” a mensagem voltaFinalmente a Escola pediu ajuda a ACAR e o DER-MG para lhe procurar, porque foi o primeiro classificado no concurso de admissão. Quase chorou em dose dupla. Além de passar era um estudante importante. Seu pai, cheio de orgulho, foi depressa à cidade, comprou uma mala ‘sem alça’ e algumas coisas que seu filho nunca tinha usado como sabonete, pasta de dente, pijama (esse nunca usou mesmo). Foi o menino para o novo mundo. Bom, agora podia sonhar até em trabalhar no Banco do Brasil! 

Chegando a escola, começa ver padrões de riqueza. Ganha sapatos (que também não tinha antes), uniforme, “bota de soldado”, conhece então a geladeira, fogão a gás, televisão e rádio de pilha. Mas mesmo assim era chamado pelos colegas, de matuto, roceiro, retireiro, caipira e todos mais adjetivos para desqualificar um sonhador campesino. Fazer o quê? Nem sabia falar direito mesmo!

O ano escolar foi uma beleza. Boa cama, boa alimentação (tinha até que comer beterraba e repolho que detestava). As aulas espetaculares eram de manhã, e à tarde tinha trabalho (lavar estábulo e pocilga, cavar tanques para peixes e capinar as hortaliças). À noite tinha horário de estudo e às vezes esporte. Assistia às aulas, dava uma olhadinha nas matérias e estava bom. Ficava intrigado porque muitos alunos estudavam tanto! Nesta escola conquistava medalha de salto e recorde mineiro de exercícios abdominais (400).

Em novembro estava com muita saudade de casa e como já tinha passado de ano, podia ir embora de férias mais cedo. Que férias! Cortava e picava lenha, enchia o carro de boi e vendia na cidade. Plantava batata doce, colhia, lavava e levava no burrinho para vender. Era um descanso mental fantástico!

Assim, quatro anos se passaram. Esta escola não tinha o segundo grau e estava na hora de novo desafio, o exame de seleção para entrar na Escola Agrotécnica Diaulas Abreu, em Barbacena. Desta vez foi fácil, já tinha mais experiência em fazer provas. Diaulas Abreu, que escola de vida! Trabalhou muito nos campos experimentais e aprendeumuita coisa. Foi um campeão de física, medalha de prata na maratona de setembro, fez Curso Técnico de Aviação Agrícola, e teve várias ofertas de emprego como Técnico em AviaçãoGanhou uma bolsa de estudo paro Curso de Medicina no Chile (mas achou que era muito longe, fim do mundo). E escolheu o vestibular na Universidade Federal de Viçosa. 

O Vestibular na UFV foi muito concorrido naquele ano, devido ao plano de investimento do governo no setor agrário. Ainda assim conseguia a maior nota de física (proeza). Quatro anos de universidade (tempo bom). É convidado para almoçar com o Magnífico Reitor Dr. Edson Potsch, conhece os primos Gilson e EdnaAli recebesuporte, modelo e ídolo para seguir. Preparava o Engenheiro para o futuro. Durante o curso universitário trabalhava na Biblioteca, no Restaurante Universitário e em pesquisa de Iniciação Científica (CNPq). Nas fériasera servente de pedreiro e pedreiroEm umúnico período férias, construiu com seu cunhado José Lacerda, a Escola Rural da Miragaia, município de Ubá - MG (um fato marcante na sua vida). Terminou a Universidade, cheio de possibilidades e escolhas de empregos.

Escolheu a Embrapa, porque visionava pesquisa e a possibilidade quase certa de fazer Mestrado e em curto prazo o Ph.D. nos States. Este objetivo foi alcançado rapidinho. Um ano de trabalho no Rio Grande do Sul (Embrapa - IPEAS) e estava de volta a Universidade para um meteórico Curso de Mestrado. Daí, num intervalo de pouco mais de dois anos estava de vôo para a terra de ‘Tio Sam’. 

Nos Estados Unidos! O Campesino do Córrego Santo Anastácio? Isso mesmo. Mas agora o “bicho pega”. Pensava que sabia o Inglês. Mas nem o “ingrês”. Não entendia nada e ninguém o entendia. Na primeira aula (Biochemistry 562 - Purdue University), o Professor falou o tempo todo sem escrever uma palavra no quadro. Também não entendia nada e não escrevia nem se quer uma palavra nas anotações. Percebeu que o Professor falava muito num tal de Malaquias. Devia ser um homem muito famoso. Depois foi descobrir que era “molecules”. Estava mesmo “perdido no tiroteio”. Primeira prova: 2º lugar, mas de baixo para cima. A segunda pior nota dos 198 estudantes, 34%. Era para desistir. Segunda prova 62%, um pouco melhor, mas ainda abaixo de D na curva de avaliação. Nessas alturas já dava pra chorar com o Professor pelo menos para perguntar o que devia fazer. Curtamente ele disse: Continue melhorando que tem chance. Seguiu o conselho. Veio a prova final (peso 4). No dia da entrega das provas com as notas, o que se fazia na ordem decrescente, escutou o professor repetir um nome estranho “MEGALREIS”? E como ninguém se movia para buscar a prova, se atreveu ir até a mesa para checar. Era Magalhães! A nota mais alta da prova final de “Biochemistry 562”, 97%. Nem podia acreditar no que estava vendo naquele mundo de americanos! Era a maior proeza e maior orgulho que enchia o peito do sonhador! 

Isto era o começo. Muito trabalho e dificuldades pela frente. Um exame “preliminary” entre fogo cruzado de um professor da banca e seu orientador, que resulta numa dolorosa reprovação. Ainda bem que a dor durou pouco. O presidente do conselho de pós-graduação, ciente do fato, solicitou um novo “preliminary” na semana seguinte com a substituição do dito professor. 
Em poucos meses, uma Tese defendida que resultou em sete Artigos publicados em Revistas Internacionais. Começa definitivamente a gloriosa carreira científica. 

De volta à Embrapa, Brasília (cidade de muitos amigos). Mais três anos de trabalho em pesquisa e retorna a Purdue University para Pós-Doutorado, com o objetivo de levar a cabo o projeto apresentado aquela universidade como parte das exigências para o PhD. Em 13 meses o trabalho estava pronto. Uma nova função da enzima glutamato desidrogenase estava descoberta. Os resultados renderam um capítulo de livro publicado nos Estados Unidos, que muda uma faceta da bioquímica em planta, mais seis Artigos em Revistas Científicas, uma apresentação no Congresso em Iowa (pelo Professororientador por estar de volta ao Brasil sem recurso para a participação), uma viagem a convite da União Soviética para mostrar o trabalho em uma Academia de Ciências, e é classificado como pesquisador do CNPq - Nível 1A (o mais alto nível) e assessor deste conselho. Ganha, como orientador, o Prêmio Jovem Cientista das Organizações Globo, Gerdau e CNPq. 

Nos dez anos seguintes atinge uma elevada média de publicações científica, mais alta do que a soma dos pesquisadores da unidade de sua Empresa. Neste período fica entre os dez melhores pesquisadores de sua área de pesquisa no CNPq. 

Em 1998 volta aos Estados, Universidade da California-Davis. Neste ano, três pesquisadores ganham o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, pela descoberta das funções biológicas do óxido nítrico (NO), em humano. Molécula sinalizadora de expressão gênica, sinalizadora de estresse e defesa anticâncer. Despertado por essa descoberta, discute com o professor orientador a possibilidade de visualizar o NO em plantas. Não foi muito acreditado, mas conseguiu recursos para pagar o risco da tentativa. Em poucos meses tinha publicado, pela primeira vez, a imagem confocal do NO em planta, foto de capa de Revista Internacional. Em seguida demonstrava a relação do NO com apoptose e descobre a enzima responsável pela produção deste radical livre em planta. Uma explosão de pesquisa com NO acontece no mundo.

Em 2000, de volta ao Brasil, é convidado pela Editora Premium Press LLC - Houston USA, para Editar um Livro “NO Signaling in Higher Plants”.  Um desafio. Uma missão de sucesso. 

Em 2005 vem a gratificação. No Congresso da Society for Experimental Biology” -“Symposium on Nitric Oxide in Higher Plants” em Barcelona, recebe HomenagemSurpresa dos Pesquisadores do mundo do NO. O Apogeu da Glória! Nem podia acreditar no que estava acontecendo. Entendia neste momento o quanto importante é o reconhecimento para o ser humano! O alimento da Alma! Que Deus generoso e Bom Pai! Quem nem conhecido é na sua cidade natal! Está aí realizado. Está consumada sua História. Missão comprida e missão cumprida. É hora de voltar para o seu chão. É hora de voltar para seu Xamã.
Jose Ronaldo Magalhães é Engenheiro e MSc. pela Universidade Federal de Viçosa (1973 e 1977), Ph.D. Fisiologia Vegetal (1983) e Post-Doctor em Fito-Bioquímica pelas Universidades: Purdue University, USA (1986/1987), Tsukuba University, Japão (1989), University of California-Davis (1998/2000). Líder de Pesquisa na Área: Óxido Nítrico (NO) Como Sinalizador de Expressão Gênica e Estresse em Plantas; Editor do International Journal Physiology and Molecular Biology of Plants, Consultor da Fapesp e CNPq; Orientador e co-orientador de estudantes de pós-graduação nas Universidades, USP, UNICAMP, UFV, UFMG, UFRRJ e UEM. Mais de 200 publicações, incluindo 80Artigos Científicos publicados em Revistas Internacionais indexadas, mais de 1600citações no ISI Web of Science, quatro livros e 10 capítulos de livro. Participação em mais de 60 Congressos Internacionais em diversos países, incluindo USA, UK, Canada, Australia, Japão, Russia, Austria, Spain, Netherlands, Portugal, Mexico, Costa Rica, Peru, Bolivia, Colombia e Argentina (Lattes CNPq).