terça-feira, 22 de novembro de 2016

Professor Domingos Roberti



Professor Domingos Roberti

            Hoje, 22 de novembro, Dia de Santa Cecília, Padroeira dos Músicos, data apropriada para lembrar de Domingos Roberti, Maestro da Banda e Professor de Música na Escola/Colégio Agrícola de Rio Pomba.
            As aulas de MÚSICA pertenciam ao núcleo de "Educação Artística", não constava da matriz curricular, portanto não reprovavam os alunos, bastava a frequência regulamentar.
            Como isto a maioria dos jovens e pré-adolescentes não tinham a mínima paciência em aprender música, preferiam matar  a aula e partir para uma "pelada" de futebol.
            As aulas do Professor Domingos Roberti não eram concorridas, até desprezadas. E ele um homem de alma sensível, temperamento dócil, não conseguia domar a molecada. As aulas costumavam ser uma balbúrdia. Foi quando eu dei uma ideia ao Professor Domingos para dispensar das aulas quem não estivesse interessado. Ele acatou minha sugestão. Assim, a maioria dos alunos saiam a gazetear pelas dependências do educandário, deixando a sala para quem quisesse aprender música. Cheguei até a começar ler a partitura, solfejar melodias.
            Em 1968, passei a ter como vizinho de cama no dormitório o Mauro Calado. Junto da sua carioquice juiz-forana, trouxe amizade e um violão. Nele me ensinou os primeiros acordes.  Com eles, eu conseguia tocar inúmeras músicas.
            O amigo Eli Carlos Vieira, o outro vizinho de cama, também pegou carona nas aulas do Mauro. Quantos ouvidos tivemos que machucar até conseguir tirar algum som prestável das cordas do violão? Não faço ideia.
            A Escola tinha um violão que ficava abandonado na sala de instrumentos musicais. Convenci ao Professor Domingos a deixar este violão sob a minha custódia. E ele deixou. Eu assistia as aulas, da última carteira, com o violão recostado na parede. Qualquer folguinha eu pegava o violão  e arranhava novos acordes.
            Algumas aulas eu matava na cara de pau. Cruzava com o professor na porta da sala de aula. E ia para um canto, afastado, tentar aprender tocar violão. Estou tentando até hoje. Certo estava quem disse "violão é o instrumento mais fácil de tocar mal e o mais difícil de tocar bem".
            Teve um dia, entre o intervalo de uma aula e outra, que peguei o violão e fui me abrigar atrás da Sala de Professores. Entretido na feitura de uma melodia nem pressenti a chegada do Professor Domingos que me interrompeu, perguntando "que música é esta?". "Sei não, tô inventando", respondi. Ele elogiou e disse que estava no compasso 6/8. Na época não tinha a menor noção do que seria este compasso e até hoje persiste esta minha ignorância sobre compassos e andamentos.
            Para a turma que gostava das suas aulas de música, o Professor Domingos começou a formar um Coral. O Tonca (Antônio Carlos Gomes de Souza, Eli Carlos Vieira, Chiquinho (Francisco de Paula Soares Mól Filho), o saudoso Betinho (Roberto Caetano Gonçalves), Cacá (Carlos Eugênio Martins), David Aráujo Leal, José Afonso de Andrade e eu.
            O nosso repertório era formado por músicas do Folclore, escolhidas pelo Professor Domingos; e músicas de "Renato e seus Blue Caps", exigência nossa, pseudocantores. E fizemos apresentações e shows, sob vaias e aplausos. Nós éramos um "Coral que precisava de Coro", sem vergonha.
            Em meados de 1971, o Clube dos Trinta promoveu um tradicional baile. Trem danado de chique. Eu e o Chiquinho Mól combinamos de irmos ao baile e após o término iríamos pegar um ônibus da Unida e passar o domingo na casa do Professor Domingos Roberti em Tocantins.
            Dançamos com algumas belas moças da cidade, também levamos "tábua". Se você não sabe o que significa "tábua" num baile dançante, recorra ao Houaiss. É uma gíria antiga. Dói na nossa autoestima.
            De manhã cedinho pegamos o primeiro ônibus para Tocantins. A esposa do Professor Domingos preparou aquele almoço dominical de mãe. À tarde, o filho do professor, também músico, tocou algumas canções no seu trompete.
            Tudo transcorreu como previsto até retornarmos ao Colégio. Mas só foi chegarmos para começar os desacertos. Como não fornecemos os nossos nomes informando que iríamos passar o fim de semana fora do Colégio, fomos colocados numa famigerada lista de alunos que abandonaram o Colégio sem aviso prévio. Era como se fôssemos fugitivos. Pegadinha dos "Guardas de Alunos". Maldade. De nada adiantou explicar que fomos para Tocantins, na casa do Professor Domingos Roberti. Ele poderia atestar a veracidade. Palavra de aluno não valia um tostão.
            E veio o castigo. Ao invés de nos suspender, fomos mandados para trabalhar no estábulo nos finais de semana. Nada de passeio na cidade ou visita aos pais.
            Como todo bom estudante, inventamos uma forma de ludibriar a esta punição injusta, mas isto é história para ser contada em outra história.

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