Fumódromo
Após o café da manhã, os alunos
tabagistas, e os curiosos, iam para trás do prédio do refeitório. Era o fumódromo.
Ali pitavam o seu cigarrinho de palha ou papel. Nem os guardas de alunos perturbava
a paz desses alunos por causa desta pequena contravenção e tampouco os alunos
fumavam em locais públicos. No fumódromo os novatos aprendiam o vício na
nicotina. E foi por volta dos 14 anos que iniciei a minha dependência. Fumei por
mais de 32 anos. Fiquei livre do cigarro tem uns 18 anos.
Naquela época fumar não era um ato
condenável como é atualmente. Era até uma forma de autoafirmação dos
meninos/jovens. Mostrar que estavam virando homens. Bobagens machistas.
E tinham as panelinhas, os grupinhos.
De quem seria a binga. Quem ficaria com a "sub", o restinho da binga.
Rolava um comércio clandestino. Alguns
alunos empreendedores compravam maços de cigarros e depois vendiam em unidades,
obtendo um pequeno lucro. Com certeza estes meninos devem ter ficado bem
financeiramente na idade adulta. Uns ainda acrescentavam ao seu comércio a
venda do saboroso doce Boreal fatiado. O colega de classe, Hélio Lamas de Faria
de Mercês, tornou-se um dos mais bem sucedidos vendedor ambulante da Escola.
A maioria dos professores fumavam. Lembro-me do Dr.
José Marinho Saraiva, Professor de Iniciação às Ciências, batendo o seu "Continental sem filtro" sobre a
unha do polegar sem acendê-lo durante toda a aula. Nós, fumantes, ficávamos em
tempo de avançar sobre o cigarro do professor. O Professor de Matemática, o
Engenheiro Civil José Antônio Cardoso, Cardosinho, passava um problema no quadro
negro para resolvermos e ia fumar lá fora da sala o seu Capri.
O Professor Aristóteles Ottoni
Cardoso, o Tote, fumava dentro da
sala de aula o seu cigarro L&S.
Só agora com o google descobri que significava Leve & Suave.
O Vice-Diretor Dr. Geraldo Luiz
Ribeiro fumava Minister. Assumiu a
direção do Colégio em 1971, após a saída no mês de maio do Plínio Tostes Alvarenga. E foi na condição de
Diretor do Colégio Agrícola de Rio Pomba
que ele teve o seu maço de cigarro roubado. Era um fim de semana ou um feriado?
Dr. Geraldo mandou reunir todos os
alunos, no saguão do prédio central e deu um ultimato: "ou apareceria o
seu maço de cigarro até o fim da tarde ou ele suspenderia todos". Acrescentou
que tal medida poderia sacrificar a sua carreira profissional, mas ele não deixaria
passar em branco um roubo nas dependências do Colégio.
Os alunos não tinham a menor dúvida
que o Dr. Geraldo cumpriria a sua sentença. Ocorreu o maior bochicho no
colégio, grupos de alunos reunidos por todos os cantos. Fofocas correndo solto.
Todos querendo saber quem roubou, quem não roubou? Como é que fariam para
aparecer o maço de cigarro? Dr. Geraldo não desejava saber quem surrupiou, só
que se repusesse o maço de cigarro de onde ele desaparecera.
Até hoje eu não sei, ao certo, quem
providenciou a restituição do maço do cigarro. Uns disseram que os guardas de alunos
resolveram comprar o maço de cigarro para a reposição. Outros levantaram a
hipótese de que os líderes do Grêmio Estudantil,
Tonca, Joãozinho de Curvelo e o Severino, providenciaram o aparecimento do maço
de Minister.
O que eu sei é que a história
terminou bem e em paz e uma advertência de que "o crime não compensa".
Nenhum comentário:
Postar um comentário