segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Fumódromo



Fumódromo

            Após o café da manhã, os alunos tabagistas, e os curiosos, iam para trás do prédio do refeitório. Era o fumódromo. Ali pitavam o seu cigarrinho de palha ou papel. Nem os guardas de alunos perturbava a paz desses alunos por causa desta pequena contravenção e tampouco os alunos fumavam em locais públicos. No fumódromo os novatos aprendiam o vício na nicotina. E foi por volta dos 14 anos que iniciei a minha dependência. Fumei por mais de 32 anos. Fiquei livre do cigarro tem uns 18 anos.
            Naquela época fumar não era um ato condenável como é atualmente. Era até uma forma de autoafirmação dos meninos/jovens. Mostrar que estavam virando homens. Bobagens machistas.
            E tinham as panelinhas, os grupinhos. De quem seria a binga. Quem ficaria com a "sub", o restinho da binga.
            Rolava um comércio clandestino. Alguns alunos empreendedores compravam maços de cigarros e depois vendiam em unidades, obtendo um pequeno lucro. Com certeza estes meninos devem ter ficado bem financeiramente na idade adulta. Uns ainda acrescentavam ao seu comércio a venda do saboroso doce Boreal fatiado. O colega de classe, Hélio Lamas de Faria de Mercês, tornou-se um dos mais bem sucedidos vendedor ambulante da Escola.
            A maioria  dos professores fumavam. Lembro-me do Dr. José Marinho Saraiva, Professor de Iniciação às Ciências, batendo o seu "Continental sem filtro" sobre a unha do polegar sem acendê-lo durante toda a aula. Nós, fumantes, ficávamos em tempo de avançar sobre o cigarro do professor. O Professor de Matemática, o Engenheiro Civil José Antônio Cardoso, Cardosinho, passava um problema no quadro negro para resolvermos e ia fumar lá fora da sala o seu Capri.
            O Professor Aristóteles Ottoni Cardoso, o Tote, fumava dentro da sala de aula o seu cigarro L&S. Só agora com o google descobri que significava Leve & Suave.
            O Vice-Diretor Dr. Geraldo Luiz Ribeiro fumava Minister. Assumiu a direção do Colégio em 1971, após a saída no mês de maio  do Plínio Tostes Alvarenga. E foi na condição de Diretor do Colégio Agrícola de Rio Pomba que ele teve o seu maço de cigarro roubado. Era um fim de semana ou um feriado?
            Dr. Geraldo mandou reunir todos os alunos, no saguão do prédio central e deu um ultimato: "ou apareceria o seu maço de cigarro até o fim da tarde ou ele suspenderia todos". Acrescentou que tal medida poderia sacrificar a sua carreira profissional, mas ele não deixaria passar em branco um roubo nas dependências do Colégio.
            Os alunos não tinham a menor dúvida que o Dr. Geraldo cumpriria a sua sentença. Ocorreu o maior bochicho no colégio, grupos de alunos reunidos por todos os cantos. Fofocas correndo solto. Todos querendo saber quem roubou, quem não roubou? Como é que fariam para aparecer o maço de cigarro? Dr. Geraldo não desejava saber quem surrupiou, só que se repusesse o maço de cigarro de onde ele desaparecera.
            Até hoje eu não sei, ao certo, quem providenciou a restituição do maço do cigarro. Uns disseram que os guardas de alunos resolveram comprar o maço de cigarro para a reposição. Outros levantaram a hipótese de que os líderes do Grêmio Estudantil, Tonca, Joãozinho de Curvelo e o Severino, providenciaram o aparecimento do maço de Minister.

            O que eu sei é que a história terminou bem e em paz e uma advertência de que "o crime não compensa".

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