Professor
Paulo Tarcísio Bomtempo
Na Escola
Agrícola de Rio Pomba o aluno tinha direito a moradia, alimentação,
atendimento médico e odontológico, sala de enfermagem, vestuário completo
(uniforme de gala e para o do dia-a-dia, macacão para trabalho de campo,
sapatos, botinas, coturnos, roupa de cama, cobertor, lençóis, toalhas) e lavanderia.
Tinha biblioteca, estudo dirigido. Uma disciplina rígida, com hora para dormir,
acordar, alimentar-se, estudar e práticas esportivas.
O
quadro de funcionários contavam com mestres agrícolas, ferreiro, dentistas,
médicos, enfermeiros, bibliotecários, cozinheiros, auxiliar de nutrição,
guardas, inspetores de alunos, serventes, trabalhadores de campo, eletricista,
mecânico, carpinteiro, sapateiro, pedreiro, datilógrafo, motorista, tratorista,
escriturário, assistente social, entre outros.
Os
professores eram engenheiro civil, agrônomo, laticinista, zootecnista,
advogado, médico, dentista, ex-padre, bioquímico.
E dentre estes Mestres tinha um jovem rapaz,
talvez o mais jovem professor da incipiente Escola, com 25 anos, formado na "Cândido Tostes", o
Lacticinista Paulo Tarcísio Bomtempo.
Ele era o responsável por lecionar Zootecnia
e Indústrias Rurais, duas
disciplinas do currículo escolar.
A Zootecnia surgira na França, por volta de
1848, e foi definida por Émile
Baudement como “a ciência aplicada que estuda e
aperfeiçoa os meios de promover a adaptação mais completa do animal à sua
produção dentro de um determinado meio criatório deste àquele”.
O primeiro Curso de Zootecnia, no Brasil, foi
criado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em 1966. E “Zootechnia” e “Industrias Ruraes” eram frutos do
Decreto nº 8.319, de 20/10/1910, promulgado pelo governo de Nilo Peçanha, na
República Velha, quando criou-se o “Ensino
Agronômico”.
Por ser jovem, nativo de Rio Pomba, cheio de
ideias e ideais, o dinâmico Professor Paulo BOMTEMPO levou, com entusiasmo, os
seus alunos para os caminhos dessas ciências.
Naquela tempo a “coqueluche” para produção
leiteira, era uma boa VACA HOLANDESA, nada a ver com o amigo Ronaldo de Piraúba. O animal devia ter
um porte esguio, membros fortes, porém finos, úbere volumétrico e bem
implantado, sistema mamário bem desenvolvido com vasos sanguíneos bem
proeminentes, sobretudo próximos ao úbere. Uma pelagem malhada de preto, com
malhas brancas e pretas distribuídas, num modelo constituído de três manchas
pretas, uma que abrange a cabeça e o pescoço, uma no tronco e uma terceira na
parte posterior do animal. Essas manchas pretas não deviam descer nos membros
abaixo do joelho, pois isto significaria defeito para o padrão racial.
E me marcaram as definições de Genótipo (constituição genética de uma
célula, organismo ou indíviduo) e do Fenótipo
que é a exteriorização do genótipo. A interação entre genótipo e fenótipo pode
ser resumida em: genótipo + ambiente à fenótipo.
E lá ia o Professor Paulo Bomtempo, com
competência, mostrar a teoria na prática levando os seus alunos a visitar
exposições e outras instituições de ensino. Lembro-me de uma viagem a Juiz de
Fora. Fomos ao Instituto de Laticínios
Cândido Tostes assistir a uma aula/palestra do Professor Lucena, afamado
Zootecnista. Montamos no lombo de um caminhão e fomos vivos e voltamos mais
vivos ainda, com novas informações do saber. Bons tempos sem a frescuragem do
“politicamente correto” quando se podia andar, sossegadamente, num
“pau-de-arara”.
Também nos levou até à cidade de Barbacena. E
durante os preparativos para a viagem, algum aluno gaiato, sempre tem um
gaiato, lembrou que o pai do Reinaldo Lima Silveira era dono de um posto de
gasolina. E insinuou que ele poderia dar o combustível para a viagem. O
Reinaldo aproveitou a oportunidade e disparou o trocadilho inocente: “Meu Pai
tem Posto, aí?”
O nosso Mestre, Bomtempo, que prezava e
mantinha o respeito na sala de aula, de imediato repreendeu, severamente, o
Reinaldo. Mas mágoas não ficaram, tanto que o Bomtempo é o Padrinho de
casamento do Reinaldo e este o tem na mais alta estima. É só perguntar lá no Posto Ipiranga, propriedade do meu
amigo “Risadinha”, que ele confirma a veracidade.
Até hoje recordo com admiração o ensino de “Indústrias Rurais”, pela nobreza e
filosofia de ensinar ao agricultor, lavrador e fazendeiro o reaproveitamento
econômico da sua produção agropecuária. Uma adaptação matuta da Lei de
Lavoisier “na roça
nada se perde, tudo se pode transformar”. Assim o leite excedente,
ou não, vai virando queijos, iogurtes e manteiga. Milho mudando para fubá,
farinha, pamonha e fécula. Frutas se transformando em sucos, polpa, licores,
aguardente.
Mas de todas as revoluções químicas,
ocorridas nas “Indústrias Rurais”, a
mais inesquecível metamorfose sucedia-se na fabricação do doce-de-leite sob a
batuta do Maestro Paulo Bomtempo, um
craque. Não há um aluno, daquela época, que não tenha na memória gustativa o
sabor indizível do doce-de-leite feito na Escola. Todos queriam raspar o tacho.
Eu raspei.
Jovem e atleta o Professor Bomtempo gostava
de praticar o Basquete. E era dos bons. Quando se construiu a pequena Quadra de
Esportes, em 1971, incentivou os alunos a praticar este esporte tão popular nos
EUA. Um dos alunos que mais se destacou foi o saudoso Zé Ribeiro.
A esta quadra, a direção do Colégio Agrícola de Rio Pomba ficou de
dar o nome de “Antônio Teixeira das
Graças”, nosso saudoso Canarinho.
Não sei se cumpriram esta promessa.
Não conheço a origem, história e saga da Família Bomtempo. Deixo esta tarefa
para o nosso escritor Francisco Bomtempo de Oliveira, Kiko para a família e Batatão
para os colegas do CARP.
Mas sei que BOMTEMPO enfrenta qualquer PARADA
e até a ORTOGRAFIA ao intrometer um “M”
antes de “T”, quando aprendemos com
o Padre Geraldo e o Professor Ubirajara Pinto de Deus que “antes de consoante
só se usa o “M” quando forem as
letras “P” e “B”.
O Luiz Alberto Gravina promoveu um encontro
de ex-alunos em Guidoval, minha terra natal. E deu o nome de Primeiro GuidoAgrícola. O Encontro foi
na Praça principal da cidade. E neste dia, 23/07/2016, acontecia um Festival
Gastronômico na praça. Bomtempo deslocou-se de Rio Pomba para ir ao evento dos
ex-alunos do CARP.
Com a praça lotada de estranhos o nosso
querido professor não achou nenhum conhecido, mas viu dois caboclos
conversando. Espichou o ouvido e escutou:
- Cumpade, vamos brincá di antônimo?
- O que cê falô?
- Brincá di
antônimo, sô! Qué dizê, uma coisa contrária da otra! Por exemplo: arto e
baxo, forte e fraco!
- Ah, intindi tudim
agora! Intão, vamu brincá!
- O que vai valê??
- Uma cerveja... Eu
começo, tá?
E os dois
mineirinhos começaram a brincadeira:
- Gordo? - Hômi? - Preto? - Verde? |
- Magro! - Muié! - Branco! - Verde? |
- Uai, verde? Verde
tem esse tar de antônimo, não!
- Craro que tem!
- Intão explica,
sô!
- Maduro!
- É mesmo, sô!
Perdi a aposta! Vâmu di novo, valendu ôtra cerveja? Mas dessa veiz eu cumeço!
- Pódi cumeçá!
- Saúde? - Moiádo? |
- Duença! - Seco! |
Aí o matuto pensou
“Agora cê me paga fiudumaégua! Qué vê só?”
E fala:
- Fumo?
- Não, não!
Peraí... fumo num tem antônimo!!
-Craro qui tem,
uai!
- Intão, diz aí,
qualé o antônimo di fumo?
- Essa é fácil,
sô...Vortemo!
Claro que é só uma piada, mas daí vê-se o bom
humor do nosso Mestre. Este causo ele me contou agora no último encontro, no
dia 01/12/2018.
Aliás, ele participou de todos os nossos três
Encontros em Rio Pomba. O primeiro, em 03/12/2016, ele fez uma bela oração, uma
adaptação do “Pai Nosso”. E mesmo
“chargeado” pelo Nicodemos, “que estava pra lá de Bagdá” não perdeu o “aplomb”.
Abraçado ao ex-aluno fez a sua prece, passou a sua mensagem.
Assim como outros professores, Paulo Bomtempo
dedicava, parte da sua energia, sem remuneração adicional, participando, à
noite, do “estudo dirigido” no
Colégio. Como me disse a fabulosa Maria
Marotta, era para que nós, de uma escola que estava dando os primeiros
passos, tivéssemos as mesmas condições de igualdade em comparação com outros
educandários já estabelecidos há muito mais tempo como o “Cândido Tostes” e o CTU
(Centro Técnico Universitário) de Juiz de Fora e o “Colégio Agrícola Diaulas Abreu” em Barbacena. E posso afirmar que
estes bravos Mestres conseguiram alcançar este objetivo.
Hoje, a Escola se transformou num Campus.
Alunos se destacando nas mais variadas áreas. Citarei alguns, peço, de antemão,
perdão aos que não forem citados, pois ficaria um texto sem fim.
Temos grandes Empresários, Fazendeiros,
Técnicos, Médicos, Comerciantes, Corretores de Imóveis, Engenheiros,
Funcionários Públicos, Advogados, Professores como o Robson Sól Corrêa de Sá e
Francisco de Paula Soares (Chiquinho Mól)
Filho, Secretários de Estado como o Fernando (Ganso) Mendes Lamas e David Araújo Leal, Diretor Patrimonial como o
Dilermando Duarte Álvarez Vieira, o Tonca
(Antônio Carlos Gomes de Souza), expert em fabricação de sucos e polpas (Indústrias Rurais), o Cacá (Dr. Carlos Eugênio Martins) um
dos maiores especialistas do país em Gado Leiteiro (Zootecnia). Uma babel de profissões, mas, sobretudo um ról de
cidadãos, trabalhadores e honestos.
Agora, recentemente, telefonei para a sua
esposa Dona Maria Therezinha Bomtempo
para saber notícias do Professor Bomtempo. Com muita simpatia e lucidez, ela me
disse que o Paulo pratica natação. Nada, todo dia, no seu sítio, dois mil
metros.
Há algum tempo ele ganhou de presente uma
Iogurteira, com isto mantém o hobby de fabricar iogurte para presentear amigos
e familiares.
Disse-me mais. Que têm cinco filhos, sendo
quatro mulheres e um homem, que seguiu os passos do pai e é Professor, querido
e admirado, no IFET. E que estes seus
filhos lhe deram sete netos.
Através de Dona Therezinha e do amigo CARPIANO José Soares Furtado (Dezinho) fiquei sabendo que o pai do
nosso Professor, o Sr. Chiquito Bomtempo
possuía uma fazenda a uns 3 km do centro da cidade e foi Juiz de Paz de Rio
Pomba, por muitos e muitos anos.
Professor
Paulo Tarcísio Bomtempo, um
homem que não envelheceu com o tempo. Ficou melhor, como os bons vinhos.
Mesmo depois de
passados mais de meio século, permanecem as boas lembranças.
O que o fizeste para
centenas, milhares de alunos, não tem preço, não há como pagar, somente a
GRATIDÃO para amortizar esta dívida impagável.
Esta é a nossa singela homenagem a um GRANDE MESTRE.
Que DEUS continue iluminando, abençoando e protegendo você e toda a sua
Família!
Parabéns pelos 80 anos de uma Vida Digna e Exemplar!
Felicidades, Saúde e Paz!
“Obrigado, pois além nos ensinar, você nos preparou para os desafios da
vida!”
Alunos do Colégio Agrícola de Rio Pomba
- 31/03/2019 -